domingo, 29 de setembro de 2013

Senão



Olhando assim
posso entender
não ter sido em vão
tanto mar
tanto bar
tanto senão...

Sem dono



Em você
pude nadar
sem limites
e descobrir
o sabor do tombo
o labor do sonho
o torpor insano
de uma paixão sem dono.

Vazio



De volta ao vazio
a casa desarrumada
os livros sem letras
discos sem notas
despensa vazia
a vida vazia
pronta prum novo começo.

Ana, adeus!



Ana
tentei ficar contigo
e nada pôde segurá-la...
nossos mundos tão insanos
colidiram e deixaram sangue...
não cabemos em nossos egos
não podemos habitar planetas tão distintos
vivemos em projetos
temporais distantes
não sabemos o sentido
- ou não entendemos
o balé de dúvidas
que bailam na noite fria.
Ana adeus!
Apenas isso e
nada mais.

Ontem



Ontem
tudo caiu
os sonhos largaram-se
as palavras perderam-se
ficaram tontas
em algum lugar
do Centro Catete
algum lugar...
tudo saiu e se perdeu
os sonhos apanharam
levaram choques
foram tripudiados...
ontem tudo travestiu-se de nada
a verdade se impôs
mandou calar a boca
o sexo
a verborragia atônita
e amorfa...
ontem a realidade tocou a campainha
entrou sem licença
instalou-se na nostalgia...
nada mais foi o mesmo.
Tudo se foi
ontem!

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Isso



Ana é isso:
brilho no escuro concreto
profunda palavra de afeto
sentido da vida certo
círculo vestido de ângulo reto
paradoxo mimético
da certeza meu projeto
da metáfora traçada
único momento de belo.

Esquina



Ainda te encontrarei
na esquina do teu acaso
Então te direi aquilo
que me dói
não para te causar dor
mas libertar aquilo
que dentro zune
que salta peralta
impune
zerando minha paz.

Você, Ana!



Sim, nunca serás Ana
Nunca.
És brisa
leve demais
És sal a gosto
tempero exótico
rupturas secretas
que o palato deleta
na primeira prova...
Sim, preciso de Ana
a todo instante
- ah, como preciso!
Preciso da pimenta
do coral que instiga
do alho que cura
do açúcar que os lábios trazem.
Ana, Ana, Ana...
preciso desse calor aceso
dessa brasa que não cessa
preciso desse paladar
desse instinto primitivo
de viver no meu limite
e não saber o que é certo...
preciso lamber beiços
morder teus lábios
arrancar sangue
mascar marimbondos
arriscar...
Preciso de você Ana
ontem amanhã
preciso...
preciso cozinhar
destemperar
amalgamar salitrar
adoçar
os momentos em que tenho você...
Ana!

sujeira



Ao sujar a vida
descobrem-se os erros
com quantas pedras
se fazem castelos de mentiras.

Teus olhos

 

Teus olhos esperam a vida prometida
pelo capital pedófilo marginal
hipócrita de boa família.
Teus olhos assistem às agruras
os remorsos mentidos
diante de câmeras
da comoção global.
Teus olhos inocentes
apodrecem ganham casca
fedem na consciência
de quem zela por ela.
Teus olhos me tocam
e apenas lamento
não saber o que fazer.

Vidas



A vida em filtro é bela.
A vida sem tino reza
a vida sem corpo rala
a vida sem gosto exala
a vida sem remendo bala
a vida estanque mordaça
a vida que se cumpre barata
a vida que se faz viva inexata
a vida que volta MATA...

Imagem



Em meio ao nada
o grande truque
a dor da máscara.
Sob gelo vento branco
a intensidade de amores
desfeitos e guardados em cabanas
casas longevas...
o assobio do tempo anunciando
estação nova
os bilhetes deixados
na face dos cães
revelam o morbidez da vida
que interrompe a ladainha
titubeada pela rotina.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Silêncio



Não sei se visto
de silêncio
o luto em que me deixaste
ao pintar em palavras fortes
as cores do adeus...

Deixa?



Deixa  bailar em teu corpo
distorcer tuas formas alvas
esconder meus desejo mais impuros

Deixa calar o que é tiro, bagunça no peito
o que é cobaia e sofrimento
conflitos e paz.

Deixa mergulhar no teu sexo
na tua inocência inexistente
na tua moral disfarçada de medo.

Deixa te amar como mulher
que o corpo chama
a sensibilidade salta
e ali se põe diante de mim...
Deixa?

Letras e números



Ao colecionar palavras e letras
esqueci os números
que aqueciam minha existência
que equacionavam meus dias
que dopavam meus poemas.

Pedras



Entre pedras
enterrei o desejo de anos
era algo de samurai
algo de um pianista
maneta
havia uma forma indefinida
enquanto formigas
retiravam a seiva de palavras
dormidas...

Entre pedras deixei
seu sorriso
e fiz rabiscos na terra
que forrava meu sonho
de realidade...
mas  a onda veio
veio a chuva
os contratempos
veio a vida
e seus venenos
e tudo se enterrou
em céu e destino.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Aqui



Ana
único porto
onde aporto
minhas dores
e refaço minha
identidade.

xeque-mate



Surreal pensar
que o tempo
vai nos esperar
acabar com o empate
e dar um xeque-mate
em nós.

nós



O meu tempo
não é o teu
falta sintonia
ou ponteiros viciados
para apostar no vermelho
do tesão escondido
no olhar ou sorriso safado
posto além horizonte
do silêncio em nós.

Ensaio do adeus



Ana
perdão por deixar
tudo ruir
por deixar momentos
partirem-se na frente fria
que chegou ontem
e desfez todo o mundo...
desculpa se a janela estava aberta
a porta estava escancarada
desculpa
se não havia cimento
raízes ou vigas...
o tempo se desfez
na revoada das angústias
e não deixou ressentimentos...
não mais.

Adeus



Ana
tens o tempo
a medida certeira
a vida inteira
pra me dizer
adeus.

poesia e tempo



A poesia crava um recado
pro tempo:
me busque amanhã.

Ana e desencontro




Ana a distância avisa:
ainda te encontro
no desencontro da vida.

Ana 2



Ana volta
deixa recados
flores incensos
revira a casa
minha memória
recria história
aponta meus tormentos.
Ana traz sexo
fábulas insônias
muda meu calendário
falsifica meu futuro...
Ana é sacana
mas entende meu mundo.

Ana 1



Ana
enquanto beija-flor traça
consumi até a última dose
de delírio teu
pra não ver brilhar
nas noites farsas
os olhos tristes meus.

Abismos



Sim você me deu abismos
e eu gostei
sim você me deu perigo
e vício tomei
sim você me deu a dança
o gosto de criança
sim você me deu...

Mas abismos
trazem morte
um pouco morri...
o perigo, pesadelos
não mais dormi
a dança , algum tropeço
caio em destemperos...
a criança cresce
corre larga o amargo
na juventude...
amadureci.

vermelho



Deixaste vermelho
o meu desejo
de viver
em você...

moça de vestido



Moça de vestido
leva minha armadura
leva minha sanidade
leva minha maldade
leva minhas saudades
leva pra longe
de mim
e me deixa
pousar em ocê...

Foco



Perda de foco
leva o errante
de volta
onde sempre esteve.
Leva o sangue
a jorrar de novo
nas guerras cantadas
em hinos e flâmulas.
Leva a perda de tempo
a queda mambembe
ao amor e seus
contratempos...

Onde



Onde fica Mato alto
A benção de Deus?
Onde fica a paz
e os remédios
do menino Jesus?
Onde deixo
minhas prendas
meus dias
de penitência?
Onde
meu Deus?

medo



Ainda sonhas
com a tranquilidade
dos dias
a dois
em que vencida a desconfiança
irás trilhar o caminho da volta...
e por mais calma
seja a vontade
ainda há o improvável
o inverossímil do amor
que a gente não sonha
mas sabe que pode vir
no vento
na chuva
na lua cheia dos nossos medos.

viver



Cada dia é uma meta
é o começo
o caminho
é o reinício
é o reinventar...
Lá no alto está meu fim
ou meu novo começo.
Não posso desistir
nem apenas tentar.

Além


Metáforas são boas
pra corromper
quem pede a vida
literal
e não valoriza
algo além do trivial.

Nas sombras



Nas sombras
as palavras são claras
o brilho surge do nada
a verdade mostra a cara
o tempo se ilumina
no esquecimento.
No escuro não há feio
estigmas são esquecidos
assim como o juízo...
nas sombras a coragem surge
cala qualquer dúvida
fecha a porta do amanhã
afinal só há o agora.

É proibido entrada



Ali tão perto estava
tão perto sorria
levava a cadafalsos
a aratacas de sonhos
a vontades sombrias.

Ali se escapava o encontro
repartia-se a unidade
era a palavra incompleta
o tempo partido
impressões.

Ciência do desejo
repartida no cosmo
jogada no lixo
em nome do dogma.
Tudo se perde
se fende em nada
apenas o letreiro
lembra
é proibido entrada.

E se...



E se um dia
aquilo que tiver for quebrado
o que houver for levado
o que vier for vedado
o que puder for negado...
o que será
permitido?
O quê?